segunda-feira, 8 de junho de 2009

Apenas 30% dos pacientes com Parkinson usam os medicamentos prescritos


Dados internacionais mostram que a causa disso é falta de conversa e de esclarecimentos sobre a doença.


No dia 11 de abril acontece a Campanha Nacional da Doença de Parkinson.
O evento produzido pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) que
conta com o apoio dos laboratórios Roche e Boehringer Ingelheim, será
realizado em nove estados do Brasil. A organização da campanha, seus
objetivos e detalhes sobre a doença de Parkinson foram apresentados
durante coletiva de imprensa realizada hoje em São Paulo no Hotel
Sonesta São Paulo Ibirapuera.

Na data estipulada serão expostos ao todo 11 stands pelo país. Em São
Paulo o evento acontece no MASP e Sesc Carmo; no Rio de Janeiro no
Aeroporto Internacional Tom Jobim e no Shopping Iguatemi; em Curitiba no
Shopping Estação; em Porto Alegre na Associação Médica do Rio Grande do
Sul; em Belo Horizonte no Shopping Cidade; no Distrito Federal no Pátio
Brasil Shopping; em Goiânia no Goiânia Shopping; em Sergipe no Shopping
Jardins e no Ceará no North Shopping.

De acordo com os organizadores do evento, o objetivo principal da
campanha é informar à sociedade sobre a doença mostrando quais são os
sintomas, o papel importante e imprescindível do neurologista e ainda,
revelar à população que a doença de Parkinson tem tratamento. No
entanto, no evento não haverá consultas médicas. As orientações serão
feitas através de folhetos informativos e cartazes.


*Sintomas*

Durante a coletiva, o médico Henrique Ferraz, membro do Departamento de
Transtornos do Movimento da ABN e professor afiliado-doutor da
disciplina de Neurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
explicou que os sintomas da doença de Parkinson são ?tremor,
enrijecimento muscular, lentidão nos movimentos e modificação na
postura?. A doença é causada por um processo degenerativo que ocorre no
sistema nervoso central. No entanto, o médico alertou para outras
possibilidades que podem gerar os sintomas descritos que compõem o
quadro de parkinsonismo, mas que não são causadas por degeneração. Por
exemplo, o uso de determinados medicamentos, intoxicações, problemas
circulatórios cerebrais, lesões traumáticas cerebrais.

?A doença de Parkinson está presente em todo o país, atinge homens e
mulheres de forma estatisticamente muito semelhante, sendo que em homens
é um pouco mais freqüente, e geralmente, inicia após os 50 anos de
idade?, disse Ferraz. Ele acrescentou que quanto mais idoso for o
indivíduo mais riscos apresenta de desenvolver a doença.

O professor revelou que ainda não se conhece a causa da doença? até
hoje é um mistério, então, não há tratamento que a cure
definitivamente?, disse. Entretanto, os esforços para desvendar a doença
de Parkinson não são recentes: ?em 1817 James Parkinson descobriu-a,
descrevendo-a como paralisia agitante?, lembrou, reforçando que embora
não haja cura, o tratamento pode oferecer uma boa qualidade de vida.

O médico explicou que a doença atinge o mesencéfalo, parte do cérebro
humano. Nesta região é que ocorre o processo degenerativo, que resulta
na diminuição da produção da dopamina (neurotrasmissor). Segundo Mônica
Santoro Haddad, coordenadora do Departamento de Tratamentos do Movimento
da ABN e Médica Assistente da Divisão de Neurologia do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, ?desta forma, um processo que
é natural do envelhecimento ? já que ao longo do tempo normalmente o
homem perde dopamina ? é intensificado?, e acrescentou: ?o doente em
algum momento passa a perder mais aceleradamente?.


*Estatísticas*

Segundo Henrique Ferraz, a prevalência da doença é de 180 a 250 doentes
por 100 mil habitantes. O médico revelou que os dados são
internacionais, pois ?no país não há muitas estatísticas de Parkinson?.

Um dos estudos realizados no Brasil foi promovido em conjunto pela USP,
UFMG e Fiocruz na cidade de Bambuí, Minas Gerais. De acordo com dados de
material impresso distribuído no evento, este estudo, realizado
porta-a-porta em 2005, foi feito na primeira fase por meio de
questionários de rastreio (1.185 participantes com 64 anos ou mais), e
na segunda, por exames neurológicos. Os resultados mostraram que 7,2%
dos participantes apresentavam parkinsonismo (sintomas comuns ao
Parkinson, mas que podem ser causados por outras doenças também) e
desses, 3,3% tinham a doença de Parkinson. O médico lembrou que, de
qualquer forma, ?embora os dados sejam importantes para se conhecer mais
a doença no Brasil, eles não podem ser expandidos para toda a população
brasileira?.


*Tratamento*

Mônica Haddad explicou que o tratamento do Parkinson é sintomático.
Segundo ela, a terapêutica gera ?alívio sintomático (motor/ não motor)?,
que pode ser medicamentoso ou cirúrgico. Enquanto o medicamentoso
envolve a associação de várias drogas, o cirúrgico só deve ser indicado
ao paciente quando este não responde mais ao tratamento com
medicamentos. Além disso, ?um importante auxílio na terapia deste
paciente é o suporte composto por exercícios, nutrição, psicologia e
educação?, disse a médica.

Ela ensinou que o diálogo entre paciente e médico, são muito
importantes. Dados internacionais mostram que a falta de conversa e
esclarecimentos sobre a doença fazem com que só 30% dos pacientes usem o
medicamento como foi prescrito?, disse, acrescentando que ?não há um
melhor tratamento, e sim, um tratamento mais adequado a cada paciente em
particular?.

O início do tratamento deve acontecer quando for identificado prejuízo
funcional. E é fundamental, segundo Mônica Haddad, informar ao paciente
que ?a doença vai progredir e que, então, a terapia terá que sofrer
ajustes?.


*O tratamento no SUS*

Henrique Ferraz reforçou que a intenção da campanha é ?divulgar que a
doença existe, que há tratamentos e que estes melhoram a qualidade de
vida do paciente e, ainda, que o tratamento é acessível a população,
pois o governo fornece remédios?. Segundo material impresso divulgado
pela assessoria da ABN, o ?gasto previsto é de R$ 483 milhões com
medicamentos excepcionais?, informa texto referente ao orçamento do
governo dedicado à categoria de medicamentos que inclui as drogas da
doença de Parkinson.

Embora haja planejamento de distribuição do tratamento à população,
?muitos acabam desistindo. Os pacientes que têm um pouco de dinheiro
recorrem às farmácias particulares, os que não estão com a doença em
estágio inicial abandonam, de forma que, apenas os pacientes em estágio
avançado e sem condições é que continuam com o tratamento do SUS?
revelou o médico. Segundo Ferraz, esta realidade é conseqüência da
grande burocracia a que o paciente é submetido durante o processo de
aquisição do medicamento. Ele comparou o processo a uma ?gincana? e
acrescentou que embora seja ?efetivo, especialmente para pessoas que já
têm uma doença debilitante, é muito desgastante?. Um dos problemas,
segundo ele, da distribuição do SUS, é a pouca quantidade de postos
destinados a entregar a medicação.



*Tratamento particular*

De acordo com Henrique Ferraz, os custos do tratamento são variados,
pois além de o médico necessitar diagnosticar o estágio da doença,
precisa combinar drogas para estabelecer o tratamento. ?Na fase inicial,
o paciente gasta em média cerca de R$ 50 a R$ 60 reais por mês. Conforme
a doença vai evoluindo, os gastos também vão aumentando e durante a fase
avançada pode-se gastar mais de R$ 300 reais por mês?, disse. Ele
ressaltou que a estimativa, na verdade, ainda fica bem abaixo dos gastos
reais do paciente, pois há também custos de passagens, médico, e tempo
que o cuidador (geralmente alguém da família) deixa de produzir para
auxiliar o paciente.

A médica Mônica Santoro Haddad lembrou que uma forma de amenizar os
gastos é a possibilidade que o doente tem de ser isento do Imposto de
Renda, fato que segundo ela, é geralmente desconhecido pela população.


*O futuro da doença de Parkinson*

Mônica falou que os tratamentos em estudo que mais prometem ajudar os
pacientes são os que conferen neuro-proteção, neuro-resgate e
neuro-restauração. A neuro-restauração, consiste em aumentar o número de
neurônios. A neuro-proteção seria capaz de reduzir, de parar a
progressão da doença. Já o neuro-resgate, que é a capacidade de
regenerar os neurônios, tem ganhado destaque, segundo a médica, com as
células-tronco. No entanto, ela afirma que até agora esses estudos
investigaram o processo apenas em animais, ?e até chegar ao homem serão
necessários 10 anos ou mais?.


*Suporte*

Samuel Grossman, presidente da Associação Brasil Parkinson, mostrou, na
coletiva, através de vídeos, livros e fotos, como o suporte pode
auxiliar os pacientes. Criada em 1985, a Associação desenvolve
atividades de pintura em seda, terapia ocupacional, dança, e oferece
seções de fisioterapia individual e em grupo, fonoaudiologia, e outras
práticas terapêuticas. A Brasil Parkinson é uma ONG que busca integrar
pacientes com a doença e que disponibiliza essas atividades de forma
gratuita. Para os médicos palestrantes, essas atividades ajudam no
convívio social. Henrique Ferraz afirmou que ?em princípio, os pacientes
não querem ir, pois têm medo de se deparar com pacientes em estágio
avançado da doença e projetar seu futuro, mas quando lá chegam gostam?.

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