sábado, 6 de junho de 2009

Brasil destina à saúde o que países desenvolvidos investiam na década de 80

Doenças como malária ainda são uma realidade. Problemas como estes foram apontados por pesquisador, durante evento, como fatores de interferência no processo de incorporação de tecnologia à saúde no país.

Com o objetivo de discutir novas propostas para a saúde, representantes de empresas, consumidores e do governo reuniram-se hoje na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Para representar a visão dos consumidores, a advogada Maria Stella Gregori, lembrou que o autor do livro prega através de sua análise sobre o sistema de saúde nos EUA que há atualmente uma grande competição neste setor, mas que ela não está funcionando. Isto porque não tem conseguido trazer qualidade, nem tem gerado valor para o paciente.

A melhoria só seria alcançada com o foco destinado ao paciente. Ela destacou ainda que para Porter o valor da saúde é quantificado através do dinheiro investido em saúde. Ela, então, concluiu que no Brasil há a necessidade de se estabelecer também um valor para a saúde. Segundo Gregori, a Constituição Federal já traz princípios que ajudam a nortear esta busca, pois aborda a dignidade humana, o consumidor de forma diferenciada e a saúde como um bem de todos.

Para a advogada, o Brasil já avançou em muitos pontos, pois criou a Lei 9.656/98 e a ANS (Agência Nacional de Saúde), órgão regulador. Portanto, considerou que o país tem instrumentos para avançar sobre a questão da saúde, e que para a conceituação de valor será necessário um equilíbrio entre prestadores e consumidores. "É importante lembrar que saúde é uma atividade onde o social se sobrepõe ao econômico", ressaltou.

Já Marcos Bosi Ferraz, do Centro Paulista de Economia da Saúde / Unifesp e do Fleury Medicina e Saúde, trabalhou com a questão da incorporação da tecnologia à saúde. Ele afirmou que, hoje, o Brasil "tem problemas de saúde e recursos financeiros do século passado". "Em 2006 o país destinou ao Sistema de Saúde o mesmo que países desenvolvidos investiam nos anos 80", disse. O que, na verdade, interfere sensivelmente no consumo de tecnologia. Ele disse que, no país, "doenças como tuberculose, infecção e malária ainda não estão resolvidas. E, no entanto, outros atuais passaram a existir como, por exemplo, Alzheimer".

Segundo Ferraz, o ritmo de geração de novos conhecimentos cresce muito acima da capacidade da sociedade, como um todo, de ter acesso aos mesmos.Ele afirmou que atualmente considerando um medicamento que tenha eficácia de 80% em uma amostragem de mil pacientes, em um mundo real, vários fatores vão influenciar o resultado final. Por exemplo, o acesso ao sistema de saúde, a precisão do diagnóstico, a eficácia do tratamento, a aderência do prestador e a aderência do paciente. Tudo isso somado, faz com que apenas 47% desses 1000 pacientes sejam curados. Ele destacou, ainda, que em países com problemas no sistema, por exemplo, nos em desenvolvimento esta estimativa pode chegar ao extremo de 9% de pacientes curados. Assim, concluiu que para o incremento da sáude é necessário que se definam prioridades, que se preste assistência baseada em evidência e quando necessário se economize.

O representante do governo, Fausto Pereira dos Santos, diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS), destacou que é impossível regular um sistema que tenha ênfase apenas no setor econômico, sendo o social imprescindível. Da forma que é impossível gerir com o fluxo de caixa. Ele destacou ainda que é fundamental trabalhar a questão do resultado, pois não se pode pagar da mesma maneira quando se tem resultados diferentes positivo, negativo ou nulo.

Para ele, apesar dos avanços nos últimos anos, no país ainda há um grande problema com relação as questões de longo prazo, pois apenas as de resultado imediato são valorizadas. Exemplificou com a questão da remuneração, "quando se propõe a remuneração baseada no resultado, a primeira coisa que acontece é o questionamento do prestador com relação ao lucro. O mesmo ocorre com os planos de saúde que questionam quanto será economizado no mês". Ele concluiu afirmando que o país já demonstra solidez suficiente para sair do curto prazo.

O evento teve como ponto de partida o livro "Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos", dos americanos, Michael E. Porter e Elizabeth Olmsted Teisberg, e foi organizado pela AMIL.

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