sábado, 6 de junho de 2009

Crianças podem não se tornar adolescentes saudáveis porque têm dieta pobre em energia e vitaminas

Pesquisa revela que crianças de nove a dez anos, matriculadas em escolas públicas municipais da capital alagoana, quase não ingerem leite e frutas, exagerando no consumo de biscoitos e salgadinhos industrializados.


A adolescência, etapa da vida compreendida entre a infância e a fase adulta, é marcada por uma série de transformações físicas. É na adolescência que uma pessoa adquire cerca de um sexto de sua estatura definitiva e metade de seu peso ideal enquanto adulto. Portanto, uma dieta alimentar inadequada, pobre em energia e vitaminas, pode prejudicar o desenvolvimento do jovem e atrasar a ocorrência da puberdade. Então, é importante monitorar se, no final da infância, as crianças estão ingerindo todos os nutrientes de que necessitam para se tornarem adolescentes saudáveis. Esse monitoramento foi feito por Maria de Fátima Machado de Albuquerque e Adriana Maria

Monteiro, da Universidade Federal de Alagoas.
Em 1998, as pesquisadoras estudaram cerca de 250 meninos e meninas, de nove a dez anos, matriculados em escolas públicas municipais de Maceió (AL). “A ingestão de nutrientes foi investigada através da aplicação, diretamente ao escolar, de um inquérito recordatório de 24 horas, a partir do qual foi possível conhecer a sua alimentação no dia anterior à coleta dos dados e analisá-la quanto ao valor energético, macronutrientes e alguns micronutrientes (cálcio, fósforo, ferro e as vitaminas A, B1, B2, C e niacina)”, contam Maria de Fátima e Adriana Maria em artigo publicado em setembro de 2002 na Revista de Nutrição. Para avaliarem a dieta das crianças entrevistadas, as pesquisadoras utilizaram como padrão de referência as recomendações nutricionais do Recommended Dietary Allowances (RDA), do National Research Council de 1989.

Maria de Fátima e Adriana Maria descobriram que os alunos ingeriam 35% menos energia do que o ideal, enquanto seu consumo de proteínas chegava a ser duas vezes maior do que o recomendado. Quanto aos micronutrientes – substâncias fundamentais ao bom funcionamento do organismo, mas necessárias apenas em pequenas quantidades –, “a alimentação dos escolares apresentou-se bastante deficiente para todas as vitaminas e para quase todos os minerais, com exceção do ferro, sem diferenças significativas entre os sexos”, afirmam as pesquisadoras no artigo. Isso significa que, caso a dieta dessas crianças não seja modificada, elas poderão apresentar “um desempenho do crescimento linear menos favorável do que poderia ser em melhores circunstâncias de vida”, lembram Maria de Fátima e Adriana Maria no artigo.

A dieta dos alunos investigados era muito ruim: a maioria deles exagerava no consumo de pão branco, pipoca, biscoitos, salgadinhos de milho industrializados e refrescos artificiais, mas poucos foram aqueles que relataram ingerir com freqüência leite e seus derivados, frutas e hortaliças.

O baixo consumo de leite pode acarretar nas crianças uma deficiência em cálcio. “Este fato é preocupante, pois as necessidades de cálcio são maiores durante a puberdade e adolescência que em qualquer outro período da vida pós-natal, em razão do acelerado desenvolvimento muscular, esquelético e endócrino”, afirmam as pesquisadoras no artigo.

Os resultados do estudo também mostram que a ingestão de vitamina A pelos alunos estava abaixo do ideal. “A vitamina A é necessária para o crescimento, diferenciação e proliferação celular, reprodução e integridade do sistema imunológico, sendo de grande importância no período da adolescência, em virtude da aceleração do crescimento”, dizem Maria de Fátima e Adriana Maria no artigo. “A elevada prevalência de escolares com ingestão abaixo do recomendado de vitamina A reflete o provável hábito alimentar da população infanto-juvenil nordestina, com pouco uso de alimentos fontes desta vitamina (cenoura, mamão, laranja, manga, abóbora, fígado, folhas verde-escuras).”
Embora os alunos consumissem cálcio e vitaminas em quantidades inferiores ao recomendado, eles tinham uma boa ingestão de ferro – mineral associado “à maturação esquelética, à expansão do volume sangüíneo e ao aumento muscular, assim como à reposição das perdas menstruais (no sexo feminino)”, conforme explicam as pesquisadoras no artigo. Contudo, devido à carência de vitaminas, o aproveitamento do ferro da dieta pelo organismo das crianças pode ficar prejudicado, o que comprova a necessidade de ajustes na alimentação dos alunos entrevistados.

Se nada for feito no campo das políticas públicas de saúde para promover uma dieta mais saudável no final da infância, as conseqüências podem ser mais graves do que se imagina. “O baixo ajuste nos requerimentos de energia e de vitaminas, de uma forma geral, sugere que o grupo estudado se encontra no final da infância em uma condição inadequada para enfrentar sua próxima fase de crescimento linear, o estirão da adolescência. Caso esta condição de nutrição não mude, essa realidade pode significar um decréscimo no desempenho de crescimento”, alertam Maria de Fátima e Adriana

Maria no artigo. “É importante haver uma política de prevenção para esclarecer as crianças e adolescentes sobre riscos nutricionais e sua influência no desempenho de crescimento”, dizem.

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