sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pesquisa constata grave situação nutricional de população indígena de Rondônia

Resultados mostram altas prevalências de baixa estatura e baixo peso entre as crianças menores de cinco anos e condições mais desfavoráveis tanto de adultos quanto de crianças durante os meses de chuva.

As condições de alimentação e nutrição dos povos indígenas no Brasil ainda são, em sua grande maioria, desconhecidas. Os trabalhos já realizados constituem estudos de caso e, embora possam apontar para a existência de tendências ou padrões epidemiológicos específicos, as possibilidades de generalização a partir deles são limitadas. Nesse sentido, Maurício Leite da Universidade Federal de Santa Catarina e equipe resolveram descrever a antropometria nutricional de uma população indígena do sudoeste amazônico, conhecida como Wari', que constitui o povo indígena mais numeroso de Rondônia.

Foram realizados dois inquéritos antropométricos de modo a investigar a situação nutricional da população. Nos inquéritos, que tiveram seis meses de diferença, foram examinados 279 e 266 indivíduos com idades entre zero e 87 anos. De acordo com artigo publicado na edição de novembro de 2007 dos Cadernos de Saúde Pública, foi dada atenção especial às flutuações sazonais das condições de nutrição, à identificação dos grupos populacionais mais afetados por estas flutuações e, por fim, à possibilidade de incorporação desta dimensão às rotinas de vigilância nutricional dirigidas ao segmento indígena da população brasileira.

Os resultados mostram que as prevalências de baixa estatura (61,7%) e baixo peso (51,7%) entre as crianças menores de cinco anos estão entre as mais elevadas já registradas na literatura sobre populações indígenas no Brasil. Sobrepeso e obesidade não foram expressivos na população. Segundo os especialistas, o perfil nutricional das crianças Wari' associa-se aos fatores ambientais aos quais estão expostas. O registro de déficits antropométricos alarmantes é compatível com as precárias condições de saneamento observadas nas aldeias água de consumo doméstico não tratada; presença constante de animais domésticos no domicílio e peridomicílio; e destino inadequado dos dejetos.

Em relação às flutuações sazonais, a equipe constatou, por meio dos perfis antropométricos, condições mais desfavoráveis durante os meses de chuva, quando as prevalências de desnutrição em crianças aumentam, e adultos de ambos os sexos apresentam menores médias de peso corporal. Dessa forma, os pesquisadores alertam para a necessidade de se considerar a sazonalidade na definição de rotinas de vigilância nutricional e na discussão dos perfis de nutrição de povos indígenas.

A questão da sazonalidade tem implicações importantes no que se refere às rotinas de vigilância nutricional, à medida que se pode esperar o agravamento do perfil nutricional da população em um período específico do ano. Esse padrão cíclico confere um caráter de previsibilidade ao processo. Apresenta-se aqui, portanto, uma oportunidade ímpar para as rotinas de acompanhamento nutricional de populações indígenas, que aponta para a franca possibilidade de se intervir precocemente na trajetória de comprometimento nutricional, destacam no artigo.

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